Casas que contam histórias são mais do que estruturas funcionais — são espelhos de identidade, cultura e visão de futuro. Em Angola, uma nova geração de arquitectos está a reinventar a forma de habitar, com projectos que dialogam com o clima, a tradição e as necessidades reais das comunidades.
Estes criadores não seguem apenas tendências internacionais: inspiram-se nos musseques, na arquitectura vernacular, nas casas coloniais e no saber popular para desenhar espaços mais humanos, funcionais e sustentáveis. A habitação unifamiliar torna-se o palco desta transformação silenciosa — e profundamente significativa.
Entre os nomes que estão a marcar esta nova vaga da arquitectura angolana estão:
- Paulo Moreira — Arquitecto luso-angolano com projectos de intervenção urbana em Luanda, como o Observatório da Chicala, que promove o mapeamento e a requalificação comunitária num dos bairros mais emblemáticos da capital. Também desenvolveu a proposta Orizzonte Luanda, focada em habitação participativa e regenerativa.
- Inês Langa — Jovem arquitecta baseada em Luanda, foca-se em habitação acessível e bioclimática, com uso de materiais locais e desenho centrado nas dinâmicas familiares angolanas. Um dos seus projectos mais comentados é a Casa Bengo, uma habitação unifamiliar que combina adobe, madeira e ventilação cruzada natural.
- Atelier Ngoma — Colectivo que actua entre Angola e Moçambique, trabalha a partir da arquitectura vernacular reinterpretada com traços contemporâneos, promovendo projectos com impacto social. Um exemplo é o Centro Comunitário do Huambo, construído com técnicas tradicionais e participação local.
- João Ventura — Destaca-se por moradias urbanas de linhas minimalistas, integradas no contexto local e com elementos típicos como pátios internos, alpendres e uso de pedra natural. A sua Casa Azul, na zona da Samba, é um bom exemplo dessa abordagem, com planta aberta e orientação solar eficiente.
As casas assinadas por estes arquitectos têm em comum a busca por autenticidade e funcionalidade. Muitas utilizam materiais reciclados, integram arte local e privilegiam a ventilação natural. São habitações que respeitam o clima tropical e a forma de viver angolana — e que começam a ser reconhecidas internacionalmente pela sua abordagem consciente.
Mais do que estéticas, estas casas contam histórias: de reconstrução, de afirmação cultural, de novos modos de pensar a arquitectura num contexto africano urbano. São espaços habitados por pessoas reais, com sonhos e rotinas, onde o design se transforma em qualidade de vida. É o caso, por exemplo, da Casa dos Ventos, um projecto experimental na zona do Morro Bento que utiliza materiais de baixo impacto ambiental e privilegia a ventilação cruzada e a luz natural.
Numa altura em que o mercado imobiliário angolano cresce rapidamente, esta geração de arquitectos propõe uma alternativa: casas com alma, ligadas à terra, conscientes — e profundamente humanas.