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Hoje: 2025-10-08

Talking Heads: quando o estranho se tornou cool

Talking Heads: a banda que uniu arte, ritmo e desconforto criativo. Um mergulho sonoro e visual numa das maiores revoluções da música moderna.

É difícil definir os Talking Heads sem tropeçar em paradoxos. Eram cerebrais mas dançáveis, artísticos mas populares, intelectuais mas instintivos. Surgidos no final dos anos 70, no cenário pós-punk nova-iorquino, tornaram-se rapidamente uma entidade à parte. Mais do que uma banda, foram uma proposta estética: música que pensava, pensadores que suavam em palco.

Com David Byrne à frente — carismático e inquieto como um filósofo em performance — os Talking Heads levaram o rock a territórios inesperados: música africana, funk descompassado, minimalismo, arte contemporânea, teatro. E, pelo caminho, criaram alguns dos álbuns mais visionários do século XX.

Da arte para o palco: o nascimento de um som novo

O grupo nasceu em 1975, na School of Design de Rhode Island, e mudou-se logo para Nova Iorque. Tocavam no lendário CBGB, ao lado dos Ramones, Blondie ou Patti Smith — mas havia algo de singular neles. Eram mais contidos, mais nervosos, quase matemáticos. Como se cada batida fosse desenhada para provocar, mais do que agradar.

O álbum de estreia, Talking Heads: 77, já revelava a estética que os tornaria inconfundíveis: letras ansiosas, guitarras cortantes, ritmos secos e directos. Mas foi com Remain in Light (1980), produzido por Brian Eno, que atingiram o zénite criativo. Inspirados pela música africana, construíram texturas rítmicas hipnóticas sobre as quais Byrne discursava sobre guerra, alienação, fé e identidade como quem recitava teses dançáveis.

“Stop Making Sense”: o concerto que virou cinema

Em 1984, os Talking Heads eternizaram-se com Stop Making Sense, filme-concerto realizado por Jonathan Demme. É, ainda hoje, considerado por muitos o mais poderoso registo ao vivo de uma banda. O espectáculo começa com Byrne sozinho no palco, com um rádio-cassete, e vai crescendo — músico a músico, peça a peça — até se formar uma orquestra de corpo e alma.

A certa altura, Byrne surge com o icónico “fato gigante” — uma crítica visual ao absurdo institucional e à estética empresarial da época. E aí reside a magia dos Talking Heads: não era só música — era comentário. Dançável, mas nunca oco. Divertido, mas sempre estranho. E no estranho vivia a liberdade.

Influência: de Radiohead a LCD Soundsystem

Ainda que a banda se tenha separado nos anos 90, a sua sombra criativa nunca desapareceu. Radiohead, LCD Soundsystem, Arcade Fire, Vampire Weekend, St. Vincent — todos partilham uma dívida estética com os Talking Heads. O cruzamento entre pop e arte, entre corpo e conceito, entre groove e distorção cognitiva passou a fazer parte da gramática da música alternativa contemporânea.

Em 2023, Stop Making Sense teve reedição em IMAX, reacendendo o fascínio por esta banda que parecia vir de um futuro paralelo — um onde dançar também é pensar. E pensar, por vezes, é o gesto mais punk de todos.

Porquê ouvir os Talking Heads hoje?

Porque continuam a soar surpreendentemente actuais. Porque anteciparam questões de identidade, media, dissonância e hiperconsumo muito antes de se tornarem mainstream. Porque são prova de que podemos ser estranhos e brilhantes ao mesmo tempo. E porque, às vezes, a melhor forma de compreender o mundo é dançar até que tudo faça — ou desfaça — algum sentido.

Capa do álbum As Above, So Below de Sampa the Great com a artista sentada em posição de meditação num espaço circular de tijolos.
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