Em Closer, cada faixa é um capítulo de uma narrativa sobre a condição humana — oscilando entre a alienação e a procura de redenção. Nada soa supérfluo. Cada música é uma peça essencial de um quebra-cabeças emocional que Ian Curtis e os Joy Division construíram com uma precisão quase cruel. Abaixo, uma leitura faixa a faixa:
1. Atrocity Exhibition
O álbum abre com uma pulsação tribal, dissonante e desconcertante. “Atrocity Exhibition” mergulha-nos num espectáculo grotesco, com a bateria de Stephen Morris em registo quase primitivo. Curtis canta como se relatasse uma visão perturbadora da decadência humana, num misto de repulsa e fascínio. É uma introdução brutal, que define de imediato o tom sombrio do álbum.
2. Isolation
Paradoxal na forma e no conteúdo, “Isolation” conjuga uma batida dançável com letras de um desespero cortante. Curtis canta sobre solidão com uma honestidade desconcertante, transformando a dor pessoal num grito colectivo. Os sintetizadores agudos de Sumner e a guitarra cortante reforçam a atmosfera de distância emocional e alienação.
3. Passover
“Passover” soa a um ritual sombrio. A guitarra e o baixo desenham uma marcha lenta e inexorável, enquanto Curtis lida com temas de culpa, dever e redenção. A sua voz parece presa entre a esperança e uma resignação soturna. A canção pesa — não pelo volume, mas pela densidade existencial que carrega.
4. Colony
Mais acelerada e rítmica, “Colony” evoca um lugar simbólico onde todos parecem prisioneiros. O riff obsessivo da guitarra e a linha de baixo hipnótica empurram-nos para uma espiral claustrofóbica. Curtis declama com raiva e urgência, num registo quase profético. A opressão toma forma sonora.
5. A Means to an End
Aqui, a raiva emerge com mais clareza. Curtis canta sobre traição e desilusão com uma intensidade rara, quase acusatória. A linha de baixo de Peter Hook é obsessiva, funcionando como âncora e motor da canção. “A Means to an End” soa a último grito — uma tentativa desesperada de afirmar sentido onde já só resta ruína.
6. Heart and Soul
“Heart and Soul” é introspectiva e envolta numa névoa quase espiritual. As camadas de sintetizador, melancólicas e etéreas, transportam-nos para um espaço de dúvida interior. Curtis parece dialogar com a própria alma, questionando o sentido da existência. É uma meditação existencial disfarçada de canção pop minimalista.
7. Twenty Four Hours
Das mais vulneráveis do álbum, “Twenty Four Hours” é um lamento em estado bruto. A guitarra e o baixo constroem uma tensão irreprimível que nunca se resolve. Curtis canta sobre perda, sobre um tempo que se esgota, sobre a impossibilidade de seguir em frente. Soa a despedida e desespero em partes iguais.